quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Carta aberta aos brasileiros da filha de José Genuino

A coragem é o que dá sentido à liberdade

Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado, pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.

Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual? Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?

Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser consideradas...

Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras, choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?

E sigo...

Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o respeito e o diálogo aberto?

Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre, empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...

Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados através de outras tantas perguntas...

Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?

Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso tudo e muito mais.

Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre acreditou.

Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.

Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida, reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que possamos seguir em frente.

Com toda minha gratidão, amor e carinho,

Miruna Genoino, 09/10/2012.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O desfile golpista - Quem são os organizadores de um protesto contra Dilma Rousseff no Dia da Independência.

POR ANDRÉ BARROCAL (do site CartaCapital.com.br)

As manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e de qualidade por militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais da internet, milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário.

O alvo da “Operação Sete de Setembro” é a presidenta Dilma Rousseff. O caráter político-ideológico da “operação” fica claro quando se identificam alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de protestos.

A ONG em questão é a Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais integrantes são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu filho, Fábio Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a Ordem dos Advogados do Brasil na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua página na internet e no Twitter, a ONG promove a “Operação Sete de Setembro” e a campanha Eu não voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.

Um dos principais parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense Flávio Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e iniciativas da ONG. A dobradinha extrapola o mundo ­virtual. Bolsonaro comanda na Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que encampou a ideia de extinguir o exame.

Filho do deputado federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e a tortura. Chamam Dilma de “terrorista” por ter ela enfrentado a ditadura da qual eles sentem saudade. “Naquele tempo havia segurança, havia saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal”, declarou o Bolsonaro mais jovem não faz muito tempo.

A ONG adota posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na internet, um vídeo batiza de “comissão da veadagem” alguns dos críticos da indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de ­teor racista contra nordestinos, no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, nascido na Paraíba, é chamado de... “paraibano”.

A agressividade no trato com os semelhantes custou aos Fonseca uma denúncia à Justiça elaborada pelo Ministério Público Federal no ano passado. Pai e filho foram acusados de caluniar o juiz federal Fabio Tenenblat. Em 2009 e 2010, ambos entraram na Justiça com ­duas ações populares contra o exame da OAB e o então presidente da entidade no Rio, Wadih Damous. A segunda ação parou nas mãos de Tenenblat, que a arquivou em julho de 2011. Na sentença, o juiz acusa os autores de “litigância de má-fé”, pelo fato de manterem outra ação semelhante. “O dolo, a deslealdade processual e a tentativa de ludibriar o Poder Judiciário são evidentes”, anotou.

Na apelação levada ao juiz para tentar reabrir o caso, os Fonseca e seu advogado, José Felicio Gonçalves e Souza, acusaram Tenenblat de favorecer a OAB “por tráfico de influência ou por desconhecimento”, o que “demonstra claramente sua parcialidade e má-fé como magistrado”. Em maio de 2012, os três foram denunciados pela procuradora Ana Paula Ribeiro Rodrigues por crime contra a honra. Em novembro, um acordo suspendeu o processo por dois anos. Os acusados foram obrigados a se retratar publicamente, a se apresentar à Justiça de tempos em tempos e a pedir autorização sempre que pretenderem deixar o Rio por mais de 30 dias. Também levaram uma multa. Se descumprirem o acordo, o processo será retomado.

Ari Cristiano Nogueira, outro ativo incentivador nas redes sociais da “Operação Sete de Setembro”, também está na mira do Ministério Público. Morador de Curitiba, é investigado por promotores estaduais por supostamente ser funcionário fantasma do gabinete do deputado Rossoni.

Nogueira é um ativo militante na internet sob o pseudônimo Ary Kara. Por meio do Twitter, foi o primeiro a circular, em meados de julho, a notícia de que Dilma teria recebido na eleição de 2010 uma doação de 510 reais de uma ex-beneficiária do Bolsa Família, chamado por ele de “bolsa preguiça”. Dias depois, a doação, registrada na prestação de contas de Dilma entregue à Justiça eleitoral, virou notícia nos meios de comunicação. O Ministério do Desenvolvimento Social acionou a doa­dora, Sebastiana da Mata, para saber se a contribuição era dela mesmo. Ela negou.

Por Twitter e Facebook Nogueira é um dos difusores da convocação para o “maior protesto da história do Brasil”, em 7 de setembro. Sua página no Twitter é ilustrada com o dizer “Partido Anti Petralha”, forma depreciativa de se referir aos militantes petistas bastante difundida na rede de computadores. No Orkut, define-se como “conservador de direita” e manifesta preferência pelo PSDB. Até junho de 2012, era assessor do presidente do partido no Paraná, como contratado na Assembleia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em 2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa.

Em 2010, uma série de denúncias levou o MP estadual a abrir um inquérito para apurar uma lista com mais de mil supostos funcionários fantasmas na Assembleia. Nogueira a integrava. Desde então, alguns suspeitos foram denunciados e julgados. O caso de “Ary Kara” segue em aberto. O promotor Rodrigo Chemim aguarda uma autorização judicial para quebrar o sigilo bancário do investigado. Espera ainda por respostas de empresas de segurança onde Nogueira teria trabalhado, enquanto deveria dar expediente no Parlamento estadual.

Rossoni, antigo patrão de Nogueira, foi investigado pelo Ministério Público por uso de caixa 2 na eleição de 2010, pois parte dos gastos de sua campanha não estava comprovada. Ao julgar o caso em agosto do ano seguinte, o Tribunal Regional Eleitoral reconheceu a existência de despesas de pagamento sem a devida comprovação, mas os valores foram considerados baixos e o deputado acabou absolvido por 4 votos a 2. 

Reeleito à presidência da Assembleia, o tucano foi recentemente acusado de receber benefícios de empresas donas de contratos de rodovias privatizadas no Paraná. Durante mais de dois anos, o parlamentar conseguiu barrar a criação de uma CPI do Pedágio no estado. Perdeu, porém, a guerra. A comissão parlamentar de inquérito foi instalada no mês passado.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Com a cara e a coragem.

Quem usa máscara não tem coragem de mudar um país de verdade. Porque haveria receio de mostrar seu rosto? Medo de ser identificado? Que revolucionários são esses que, de repente, brotaram das redes sociais? Vejo muitos de meus conhecidos, boa parte deles com pensamento de direita, outros que se dizem favoráveis ao anarquismo, defenderem o direito de se manifestar. Porém, minha grande curiosidade é: contra o que protestam mesmo? Dizem querer o fim dos escândalos de corrupção, e, ainda, melhoras na saúde e na educação. 

Ocorre que os manifestantes precisam saber de duas coisas. Por um lado, para que se possa mudar realmente uma sociedade, especialmente um país do tamanho do Brasil, faz-se necessário articulação política (palavra tão odiada por alguns), o que só se consegue através de movimentos sociais que tenham lideranças para que se possa coordenar e direcionar suas demandas, sem o quê qualquer grupo de pessoas na rua se transformaria apenas numa massa potencialmente violenta, mas sem capacidade de articulação, e destoante do ponto de vista ideológico e político. 

A necessidade de dialogar com o poder instituído é intransponível para qualquer movimento social que busque colocar em prática suas ideias de governo e de estado, ou do que seriam reais políticas públicas. Para que haja articulação social é indispensável tempo para que os grupos sociais sejam organizados e coordenados. Não vislumbro essa coordenação nos indivíduos que estão participando ativamente dos recentes protestos, tampouco me parece haver organizações sociais sólidas atuando por trás destes indivíduos. Grupos como o Anonymous, propagandeados pelas redes sociais, não tem qualquer base social no Brasil, e não sabemos em nome de que interesses políticos atuam.

Por outro lado, se o que buscam os manifestantes é um pais totalmente livre de corrupção ou de desvios de recursos públicos, sinto informá-los que, apesar de louvável, tal objetivo ainda não foi atingido por qualquer país na história. O ser humano, assim como as instituições políticas por ele criadas, carregam em seu âmago a imperfeição, e o fato de ser corruptível está incluído nesse contexto: observamos isso, inclusive, em agrupamentos humanos menores, como, por exemplo, em uma família, quando um irmão pega o biscoito de outro que estava num canto da geladeira e, ao ser questionado, desmente; ou quando um filho furta dinheiro da carteira de sua mãe. 

Temos que, sim, fortalecer as instituições responsáveis por fiscalizar os organismos estatais, com o objetivo de desnudar possíveis esquemas de locupletamento ilícito ou malversação de dinheiro público.

Já se sabe que, durante períodos de regime militar muito se desviou de recursos públicos, porém, na época, a população permaneceu ignorante aos desvios, pois a censura sobre os veículos de comunicação junto ao rígido controle sobre os órgãos públicos que deveriam fiscalizar o governo não permitiram o desnudamento dos esquemas de corrupção.

Devemos relembrar que já conquistamos enormes avanços nas últimas décadas, tanto em liberdades políticas quanto na área social. E mais, não podemos achar que vamos mudar o país apenas através de fotos de cartazes publicadas em redes sociais. Neste sentido, grandes manifestações necessitam de um desígnio minimamente conectado com a realidade social de seu país, para que não se tornem apenas um meio de uma numerosa minoria demonstrar poder de persuasão política, na contramão da liberdade de locomoção da maioria da população e, ainda, da liberdade de opinião. Pois, como disse Cynara Menezes, protestar contra tudo é o mesmo que protestar contra nada.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Corrupção e gastos: Brasil, é hora de olhar para o espelho

POR BOB FERNANDES


Dos 0,20 centavos dos ônibus e metrôs para a corrupção e desperdício de dinheiro público foi só um passo. O tema, embalado pelas "obras da Copa", está na agenda e nas ruas. Um ótimo momento para milhões de brasileiros olharem também, com muita atenção, para o espelho.

Porque, consequência inevitável, não existe corrupção sem corruptores. E corruptos e corruptores têm que, também inevitável, ter nascido e se criado em algum canto do planeta Terra.

Ainda, também uma evidência lógica, corruptos e corruptores moram e vivem, corrompem e são corrompidos em alguma cidade, estado, país. Que, no caso, certamente alguns se surpreenderão, é… no Brasil.

Além da Presidência e vice-presidência da República, no momento ocupadas por Dilma Rousseff e Michel Temer, o Brasil tem 27 governadores e 27 vice-governadores, 81 senadores, 513 deputados federais, 5.561 prefeitos, 5.561 vice-prefeitos, 1.059 deputados estaduais e 60.320 vereadores.

Assim, numa conta ligeira e certamente sujeita a imprecisões, o Brasil tem 73.149 "políticos", esses seres objeto de crescente repulsa. Cabem, em meio a tanta rejeição, algumas perguntas:

- De que planeta vieram os "políticos"? Chegaram ao Brasil numa nave especial, vindo de uma outra galáxia? Ou, talvez, algo mais próximo, como Júpiter?

Aplique-se, por hipótese, uma taxa mínima na média de renovação de mandatos, algo como 25% no tempo em que se dão eleições em todos os níveis e se chega a mais uns 18 mil novos "políticos" a cada quatro anos.

Por essa conta, e a renovacão estimada muito por baixo desde a redemocratizacão, em 1985, tivemos desde então algo como 110 mil cidadãos e cidadãs com novos mandatos parlamentares. Os tais "políticos".

Pergunta-se: De que planeta eles vieram? Onde, em que cultura, adquiriram esse odiento hábito, o da gatunagem que, ao que parece, é tão estranho aos brasileiros?

Outra pergunta: um "político" nasce com determinação genética para tal? É uma cidadã, um cidadão programado para maus hábitos e por isso se torna "político"?

Notemos alguns números em torno do mundo destes seres. Estatísticas atribuídas ao Brasil.

O Brasil tem um Produto Interno Bruto estimado em R$ 4,14 trilhões. Leio que estima-se a corrupção em até 2,4% do PIB. Portanto, uns R$ 100 bilhões. Estimativas mais modestas apontam para R$ 70 bilhões/ano.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) relata que 2.918 ações e procedimentos relativos à corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade administrativa prescreveram por falta de julgamento em 2012.

Ou seja, em quase 3 mil casos os responsáveis escaparam por falta de julgamento. Por outro lado, em 1.637 ações na Justiça 205 terminaram em condenação.

Ainda a Justiça e corrupção: tornaram-se ações 1.763 denúncias contra acusados de corrupção e lavagem de dinheiro e 3.742 procedimentos judiciais relacionados à prática de improbidade administrativa.

No final do ano tramitavam 25.799 ações sobre corrupção, lavagem de dinheiro e improbidade. Os réus nessas ações são centenas de milhares de brasileiros. Se não prescrever, deverão ser julgados.

Parênteses. Nos idos do governo Collor estimava-se que as operações comandadas por PC Farias subtraíram mais ou menos R$ 1 bilhão.

No rastro daquilo, a Polícia Federal indiciou mais de 400 empresas e 110 grandes empresários. Só um grande personagem foi condenado. O finado PC Farias. Tudo mais prescreveu.

De volta à Justiça. O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), rastreou e mostrou: entre 2000 e 2010 as movimentações financeiras atípicas nos tribunais somaram R$ 855 milhões.

Ou seja, excetuado o que é feito com cuidado ou a miuçalha, em 10 anos beirou o bilhão o dinheiro suspeito a circular pelos tribuinais e seus altos e baixos funcionários, segundo o insuspeito Coaf.

Pergunta-se: em que planeta moram e trabalham, de onde vieram funcionários da Justiça suspeitos de embolsar pelo menos R$ 855 milhões de forma heterodoxa?

O ex-secretário da receita federal nos governos FHC, o atilado Everardo Maciel, relata: habitantes no Brasil, de todas as classes socais, devem – dívida já inscrita na União- mais de R$ 1 trilhão em impostos.

Não pagos por N motivos, ilegais e mesmo legais. E, claro, de muitos se ouvirá o fraseado “não pago porque vão roubar mesmo”.

Em tempo: em precatórios e assemelhados, o Estado e os estados brasileiros devem mais de R$ 100 bilhões aos cidadãos.

Pergunta: os que não pagam o R$ 1 trilhão em impostos são de onde? E que cultura admite Estado e estados não pagarem aos seus cidadãos uma dívida de mais de R$ 100 bilhões?

Como se vê e se verá na fúria dos fakes de redes socais e de alguns grupelhos fascistóides que têm se infiltrado na legítimas e democráticas manifestações nas ruas do Brasil, há os que sentem saudade do passado.

São os filhos, netos e já bisnetos da ditadura. Esse pessoal que ama Jair Bolsonaro, que baba ódio nas redes e prega um certo "Partido Militar".

Sem entrar em maiores considerações quanto aos 21 anos de ditadura, até porque a história já o fez, recordemos alguma coisa daquele passado.

No início dos anos 70, tendo o também general Golbery do Couto e Silva como grande mentor, o general e futuro presidente-ditador, Ernesto Geisel, revelou porque sentia-se obrigado a fazer a "Abertura Política".

Às páginas 150 e 151 do seu livro “História indiscreta da ditadura e da abertura, 1964-1985-“ o ex-ministro Ronaldo Costa Couto reproduz frase de Geisel ao Almirante Faria Lima:

- (…) Porque a corrupção nas Forças Armadas está tão grande, que a única solução para o Brasil é a abertura…

Frases nesse mesmo sentido sào atribuidas ao ex-presidente e general Castelo Branco e ao ex-ministro da Justiça e censor-mór da ditadura Armando Falcão.

De que planeta eram eventuais corruptos e corruptores daqueles tristes tempos de tortura, silêncio obrigatório e assassinatos politicos?

Ardorosos defensores do passado citam como novidadeiro, e fruto apenas da “política” de hoje a corrupção, e o desperdício de dinheiro público.

Encerremos com uns poucos entre muitos exemplos:

Transamazônica. Para, entre outros motivos, povoar a região e evitar a ocupação por estrangeiros, o governo dos anos 70 imaginou e fez construir uma estrada de 4.162 km. Ao custo de US$ 12 bilhões.

A amazônica estrada de R$ 35 bilhões – a preços de hoje-, segue com 2.200 Km ainda sem pavimentação.

Escândalo da Mandioca. Em Pernambuco, entre 1979 e 1981. Da agência do Banco do Brasil de Floresta desviaram Cr$ 1,5 bilhão (R$ 20 milhões) do Programa de Incentivo Agrícola, o PROAGRO.

Quem apurou e denunciou foi o procurador Pedro Jorge de Melo e Silva. Que terminou assassinado no dia 3 de Março de 1982.

Uma lista dos casos de então seria longa, exaustiva. Em 21/01/1983, o Banco Central decretou intervenção nas sociedades de crédito imobiliário do Grupo Delfin.

O grupo tinha a maior empresa privada de poupança do país, com mais de três milhões de depositantes, em 83 agências.

Jornais daqueles tempos, os alternativos que lutavam contra a censura, relataram gatunagem em obras como a hidrelética de Itaipu. E em certos contratos na Petrobras.

De tudo aquilo e muito mais, e sem poder ir às ruas como hoje, quanto se soube no país sob ditadura e censura?

E de que planeta vieram, ao longo desse meio século, da ditadura à redemocratização, os cidadãos e cidadãs que fizeram e permitiram que se fizesse tanto?

Não me deixei

Quase fui atacado pelo fantasma da mesmice...
Quase fui anestesiado pelo carma de ser reacionário,
do que me livrei porque, graças, corri pro dicionário!

Porque, às vezes, é mais fácil ser um tolo qualquer,
com ares de sábio, mas que não sabe amar.

Mas meu coração, velho de batalha, quase nunca se engana.
E não perdeu a coragem de se iludir com a esperança,
a esperança de acreditar no amanhã.

Neste dia que renasce toda manhã.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A estupidez de Oscar Schmidt

Há poucos dias Oscar Schmidt, ex-jogador de basquete, deu entrevista ao site Terra. O ex-candidato a senador pelo conservador Partido Progressista Brasileiro (PPB) afirmou ter aprovado as recentes manifestações pelo país, e ser a favor da pena de morte, mas, o que mais me chamou atenção em sua entrevista foi o tom preconceituoso de sua fala quando relacionou a popularidade dos candidatos do Partido dos Trabalhadores no Nordeste do Brasil com o programa Bolsa Família. Mais uma vez se vê a repetição de um velho discurso conservador. Novamente, assistimos uma personalidade chamar o programa de assistencialista e eleitoreiro. Acontece que quase ninguém tem a coragem de apresentar uma solução para o problema para a miséria, poucos estão realmente preocupados com o problema da fome e da distribuição de renda no Brasil.

Pois bem, muitos se apegam a exemplos negativos como o de pessoas que recebem a assistência do Bolsa Família indevidamente ou que usam o dinheiro do programa de forma equivocada, para condenar a iniciativa do governo federal. Esquecem de ver os dados positivos já amplamente divulgados, por exemplo aquiaquiaqui e aqui. A questão é que ainda há muita gente conservadora, raivosa por conta de ter de contribuir minimamente por uma real distribuição de renda. Obviamente as regiões mais carentes do Brasil (muitas das quais estão no Nordeste) são beneficiadas diretamente pelo programa, havendo um aumento da popularidade dos políticos que apoiam a iniciativa nessas mesmas regiões, o que é natural. Enxergar o programa como eleitoreiro ou assistencialista é fechar os olhos pra questão da desigualdade e da miséria que ainda persiste em nosso país, e colocar em primeiro plano interesses pessoais ou de classe, especialmente porque aqueles que criticam certamente não recebem o Bolsa Família.

Lembro, também, que o programa é nacional e não atende apenas ao Nordeste. Não sei porque o Oscar fala apenas de minha região. Noto um pouco de preconceito contra nordestinos em sua fala, camuflado por um falso discurso político. Talvez ele pense que só existe pobreza no Nordeste... Mas, enfim, aconselho todos a lerem matérias em sites confiáveis sobre os resultados do programa Bolsa Família, para que possam refletir melhor sobre os reais benefícios que ele trouxe para muitas regiões do Brasil.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

É um país (de sofrida memória)

É um país que vem da brasa.
Um país fumegante.
Como todos os outros, de bêbados e errantes.
Porém sem porém, sem antes.

Pois é um país de gente sofrida.
De sofrida gente.
Gente de memória sofrida.
E, também, um país de sofrida gente de memória.