sexta-feira, 28 de junho de 2013

Partidário

Tem gente que prefere não ter governo a ter um governo do PT, eleito pelo povo. Nenhum movimento que proíba bandeiras ou partidos pode se dizer democrático. A sociedade civil organizada não pode abrir mão de partidos políticos, há que se ter governo, e há que se ter oposição. Porém, esta última não tem o direito de transformar sua insatisfação num motim, pronto a tomar de assalto o poder político conquistado democraticamente nas urnas.

Ainda não consigo escrever friamente sobre o caráter das recentes manifestações. Inclusive, penso ser tarefa difícil traçar um perfil dos manifestantes, pois estes, assim como suas reivindicações, têm perfis muito heterogêneos.

Apesar disso, constato a presença de muitas pessoas pouco ligadas a movimentos sociais, impulsionadas pelo refluxo das redes sociais. Assim como, percebo a ausência de profundidade política em muito dos manifestantes, os quais estão indo às ruas por motivos narcisistas, do tipo "este evento eu não posso perder".

Da mesma forma, parece-me que este é um movimento eminentemente não-popular, posto que grande parte dos manifestantes provém da classe média, especialmente a classe média anti-petista, carente de uma oposição sólida ao governo Dilma.

Porém, dentro do movimento maior, alimentado pelas redes sociais, há, sim, ao meu ver, alguns movimentos populares, com uma causa real e digna, como me parece ser o caso do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014, que se fez muito presente nos protestos ocorridos em Belo Horizonte.

São trabalhadores, vendedores, pessoas que tinham lanchonetes e outros pequenos negócios nas imediações do Mineirão, ou de outros estádios, além de moradores que foram removidos da área, pessoas diretamente prejudicadas pela modernização e "higienização" dos estádios que abrigarão a Copa do Mundo 2014.

Acontece que, de minha parte, são impressões iniciais.

Assusta-me o perfil anti-democrático de alguns manifestantes, como aqueles que pedem o impeachment de Dilma, sem que haja nenhuma razão para isso. Estes a culpam por deficiências que existem em nosso país desde tempos imemoriais, como a falta de investimento em saúde e educação, e a corrupção. Ocorre que tais deficiências vêm sendo combatidas desde o governo Lula, ainda que persistam em um grau indesejado.

Mas, especialmente no que tange à corrupção, tenho boas impressões das políticas traçadas por Lula, e, agora, por Dilma. Ora, se os escândalos surgiram e vieram à tona não deixa de ser um fato positivo, pois, antes, muito pouco se sabia sobre o desvio de dinheiro público, mas isso porque muito era escondido e empurrado para debaixo do tapete, não havia tanta investigação. Em especial, a Polícia Federal tem se destacado como um órgão efetivo no combate à improbidade administrativa e à corrupção.

Por isso, não compactuo com aqueles que só criticam o governo, sem reconhecer as conquistas deste governo e do governo de Lula, falando dos últimos governos em nível federal. Há muito o que se fazer, porém há que se valorizar o que já foi feito.

Obs.: Reconheço que os políticos estavam numa letargia perigosa, e que o movimento serviu para que dela saíssem. Acredito que, nos últimos dias, os governos, em nível federal, estadual e municipal, assim como o Congresso Nacional, mobilizou-se e trabalhou mais do que havia feito durante quase todos os meses do ano. Isso sim é uma conquista.

Enquanto isso, nas páginas amarelas...

 “[...] O verdadeiro partido de oposição é a mídia nativa. Como tal age, à vontade diante da condescendência de um governo incapaz de reagir à altura, por motivos desconhecidos, às agressões diuturnas.

Parece até vocação mulher de apache na sua inspirada exibição na Place Pigalle. Perfeito no papel de ministro do plim-plim, Paulo Bernardo. Nas páginas amarelas da já citada edição histórica da Veja, o ministro aparece, com direito a foto em pose de varão Plutarco, para anunciar o propósito de acabar de vez com a ‘obsessão do PT de censurar a imprensa’. Quem sabe o nosso herói seja apartidário. 

Ora, ora, o ministro endossa a tese da mídia nativa, e lhe oferece o indispensável apoio, enquanto a Secom, entidade inexistente em países mais democráticos e civilizados, distribui à mídia a publicidade governista com generosidade invulgar, especialmente às Organizações Globo, premiadas anualmente com mais de 900 milhões de reais.

A liberdade reclamada pelo jornalista pátrio é a liberdade de fazer o que bem entende, inclusive inventar, omitir e mentir. E o que diz Paulo Bernardo? Que assim seja. Interessante observar que na última página da mesma edição da nau capitânia da frota abriliana leio a seguinte interpretação das passeatas: ‘O povo está dizendo que este governo de farsa montado por Lula há mais de dez anos rouba, mente, desperdiça, não trabalha, trapaceia, entrega-se aos escroques, cobra cada vez mais imposto e fornece serviços públicos vergonhosos’. Suponho que, na opinião de Veja, o governo de Fernando Henrique tenha trafegado por rotas opostas e fornecido ao povo serviços públicos primorosos. [..]”

por Mino Carta

sábado, 22 de junho de 2013

What is this, "companheiro"?

Confiram artigo publicado originariamente no excelente blog Tijolaço, o qual revela uma campanha obscura por trás das manifestações que acontecem nas principais cidades do país. Segue o artigo, abaixo:

Recebi e copio aqui um texto da maior importância, que deve ser lido por todos os que ainda duvidam da presença de grupos organizados de provocadores e por gente contrária ao Brasil que se aproveita dos desejos generosos que movem os jovens que estão se manifestando em todo o Brasil.

Tem boi na linha. #changebrazil? Qual seus interesses?

“Quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar” Diz porta-voz anônimo do movimento ChangeBrazil

Nem tudo que está acontecendo parece ser espontâneo. Qualquer pessoa que já tenha trabalhado com planejamento de campanha publicitária, especialmente online, sabe que algo assim é possível. Não é tão diferente de planejar o lançamento de um filme ou turnê para o público jovem.

Há um movimento na internet, que surgiu no dia 14 de junho, voltado principalmente para jovens, chamado #changebrazil (surgiu assim mesmo, em inglês). Em português o nome do movimento é Muda Brasil. Esse movimento postou vídeos, aparentemente espontâneos, que foram vistos por mais de 1 milhão de pessoas, a maioria deles jovens (muitos secundaristas) que estão indo para as manifestações em clima de festa e máscara V de Vingança.

Na quinta-feira, dia 13 de junho a polícia de Geraldo Alckmin (PSDB) reprimiu de forma violenta manifestantes do Movimento Passe Livre, cidadãos e jornalistas. Logo no dia seguinte a grande imprensa passou a defender o movimento e surgiu um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help us” (Por favor, nos ajude). O vídeo, com um narrador com visual rebelde (alguém sabe quem ele é?) que já foi visto por mais de 1 milhão e 300 mil pessoas, passa rapidamente sobre tarifa de ônibus, critica a mídia e estimula aos jovens o ódio contras os políticos, enaltece o STF e estimula quem ver o vídeo a espalhá-lo e debater o assunto na internet. Sugiro que quem não entende o clima da juventude no protesto ou que tem ilusões de que eles são de esquerda, o assista. http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

O vídeo parece simples, mas a iluminação e fundo é profissional, foi feito em estúdio, e se prestar atenção, verá que o manifestantes (alguém o conhece?) de inglês perfeito, está lendo um teleprompter. O vídeo é feito em inglês, mas a maioria dos comentários é de brasileiros. Não há acessos a estatísticas. O vídeo foi feito e visto provavelmente por brasileiros, jovens, de classe média e alta que falam inglês. Fala da Copa do Mundo (preste atenção: todos falarão). E termina dizendo que “o povo é mais forte que aqueles eleitos para governá-los”.

Que movimento pelo Passe Livre faria um vídeo em inglês ? Que é esse sujeito? Quem pagou essa produção, feita em estúdio com teleprompter? http://youtu.be/AIBYEXLGdSg

As dicas sobre quem ele é o que as pessoas que estão por trás disso querem estão no segundo vídeo, postado durante as manifestações de segunda-feira. Este fala em português. Carregado de sotaque, celebra a tomada do Congresso Nacional por “protestantes” (sic). Esse vídeo foi menos visto, mas não pouco visto, são 66 mil pessoas. http://youtu.be/z-naoGBSX9Y Ele dá parabéns pela manifestação, pelas pessoas mostrarem que “amam” seu país. E segue para dar instruções. Cita as hashtags #changebrazil e o #brazilacordou. Diz que o público não pode se desconcentrar nisso pelo gol do Neymar, ou pelo BBB. Diz que não devem falar de outros assuntos. Mas ao mesmo tempo a mensagem é vazia além de “Muda Brasil”. Ele se refere sempre sobre o que acontece como isso. E no minuto 2:06 ele diz para as pessoas fazerem o material para o exterior porque “quanto mais pessoas colocarem pressão sobre o Brasil, mais rápido o Brasil terá que se dobrar”.

Que movimento é esse que quer mudar o Brasil fazendo ele se dobrar?

Ele mistura nas pautas do seu “movimento coisas que todos defendem, como contra a corrupção, e mais verbas para saúde e educação. Talvez por “coincidência” as mesmas pautas centrais, com a mesma linha de discurso foi postada em um vídeo suspostamente feito pelo grupo Anonymous justamente quando as tarifas iam baixar para propor novas causas. Ele já foi visto por 1 milhão e 400 mil pessoas http://youtu.be/v5iSn76I2xs Importante lembrar que como os vídeos do Anonymous usam imagem padrão e voz falada por digitada pelo Google, e são postadas em contas do Youtube aleatórias qualquer um pode fazer um vídeo se dizendo Anonymous.

O nosso amigo de sotaque não é o único vídeo que veio de fora. Já ficou famoso o vídeo de uma menina bonitinha, Carla Dauden, uma brasileira que mora em Los Angeles, falando contra a Copa do Mundo. Na descrição do vídeo ela diz que tinha feito o vídeo antes dos protestos (talvez para justificar a produção apurada), mas postou no dia 17 de junho . Carla diz Mais de 2 milhões de pessoas o viram. De novo, em inglês com legendas. Pretensamente para o exterior, mas de novo a maioria dos comentários é brasileiro. Ou seja, são para jovens que falam inglês. Diz mentiras como que os custos do evento teriam sido 30 bilhões de dólares, o que parece que os estádios custaram isso. Quando na verdade os custos reais são 28 bilhões de dólares, a maior parte em obras de mobilidade urbana, não estádios – veja o vídeo aqui http://youtu.be/ZApBgNQgKPU Mas quem está checando acusações?

Prestem atenção. A soma de apenas esses 3 vídeos somente deu 5 milhões de visualizações no Youtube.

Dê uma busca por changebrazil ou Muda Brasil, o nome dos vídeos em português do “movimento” que quer dobrar o Brasil no Youtube, e descubra você mesmo. Será que está acontecendo um 1964 2.0?

Por: Fernando Brito

Fonte: http://www.tijolaco.com.br/index.php/what-is-this-companheiro/

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Há muito tempo eu queria ter dito isso sobre Lobão.

 Eis que Cynara Menezes escreveu o que eu queria ter escrito. Só agora descubro o seu texto, publicado em 01/11/2012. Criticou com veemência toda a imbecilidade que nos é vomitada por quem já foi um grande artista, mas que hoje vive na sombra de um passado criativo. Refiro-me a Lobão, de quem já fui um quase fã em razão de suas músicas. Acontece que, hoje em dia, ele tem ocupado demasiado tempo em criticar tudo que tenha alguma relação com a cultura brasileira, como se ele fosse um alienígena que pousou por essas bandas, com algum traço de superioridade, além de querer escandalizar com outras asneiras sobre política.

Sem mais delongas, segue abaixo o texto originalmente publicado no blog Socialista Morena:




Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista. Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.

Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido: os roqueiros Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Eu ia citar também Leo Jaime, outro direitoso do rock nacional, mas não posso classificá-lo como um derrotista típico –fora isso, no entanto, cabe perfeitamente no figurino que descreverei aqui. Os três são cinquentões: Lobão tem 55, Roger, 56 e Leo, 52.

Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro. E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.

Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido. O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo hidrófobo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”. No twitter (@lobaoeletrico), se diverte esculhambando o país e os brasileiros, sempre nos colocando para baixo. “Antigamente éramos um país pobre e medíocre… terrível. Hoje em dia somos um país rico e medíocre… pior ainda”, escreveu dia desses.

Os anos não foram mais generosos com Roger Moreira, do Ultraje. O cara que cantava músicas divertidíssimas como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Marylou ouInútil virou um coroa amargo que deplora o Brasil e vive reclamando de absolutamente tudo com a desculpa de ser “contra os corruptos”. É um daqueles manés que vivem com a frase “imagine na Copa” na ponta da língua para criticar o transporte público, por exemplo, sem nem saber o que é pegar um ônibus. Os brasileiros, segundo Roger, são um “povo cego, ignorante, impotente e bunda-mole”. Sofre de um complexo de vira-lata que beira o patológico. Ao ver a apresentação bacana dirigida por Daniela Thomas ao final das Olimpíadas de Londres, tuitou, vaticinando o desastre no Rio em 2016: “Começou o vexame”. Não à toa, sua biografia na rede social (@roxmo) é em inglês.

Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens. Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” –Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.

O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia. O paulistano Roger estudou no Liceu Pasteur, na Universidade Mackenzie e nos EUA. Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo –infelizmente junto com o vigor criativo– o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivessem causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Roger e Lobão? Eu nunca mais ouvi nem sequer uma música nova vinda deles. O Ultraje, inclusive, se rendeu aos imbecis politicamente incorretos e virou a “banda do Jô” do programa de Danilo Gentili.

Enfim, incrível seria se Mano Brown ou Emicida, nascidos na periferia de São Paulo, se tornassem, aos 50, uns reaças de marca maior. Pago para ver. Mas Lobão e Roger? Normal. O bom filho de papai à casa torna. A família deles, agora, deve estar orgulhosíssima.

por Cynara Menezes.